sábado, 22 de agosto de 2015

VOCE SABE O QUE É GENEALOGIA?


   A GENEALOGIA E A HERÁLDICA são duas ciências auxiliares da história, pelas quais eu me interessei desde minha adolescência. Na realidade a Genealogia é a busca de informações e a montagem da árvore genealógica de uma família, com nomes, datas e lugares por onde andaram dos seus antecessores, de modo que eles sejam mantidos vivos na memória dos seus descendentes. Isso não é uma tarefa simples, mas que se consegue através de demoradas pesquisas em bibliotecas, arquivos públicos e cartórios.

   A GENEALOGIA é um estudo apaixonante e que pode levar até uma vida inteira para se completar uma árvore genealógica com todos os parentes diretos e colaterais, primos em vários graus e nos mais diversos lugares do mundo. E eu já comecei a escrever a da minha família.

   RECORDO que o filósofo anglo-irlandês Edmund Burke (1729-1797) expressava: “Os povos que nunca olham para trás, observando seus antepassados, jamais  olharão para frente, ganhando uma posteridade." Essa afirmação é muito correta que eu sempre cito, e lamento ainda ver são poucos os que se interessam em conhecer seus antepassados. É triste escutar que alguém não sabe o nome de seus avos. Na realidade uma família se constitui de pai, mãe, filhos, avós, bisavós, tataravôs, etc., sem contar os tios, primos, sobrinhos… cachorro, gato, papagaio… e por aí vai. E nós, brasileiros, somos um povo que tem histórias vindas de muitos lugares.

   O VOCÁBULO GENEALOGIA é composto pelas raízes gregas “gen” (geração) e “logos” (estudo), que cujo significado indica: o estudo das gerações, ou o estudo das famílias. É interessante notar que muita gente, sem sequer perceber o sentido da genealogia, está lendo as genealogias que aparecem na Bíblia, sobretudo no Antigo Testamento, por exemplo a da descendência de Abraão e outros, no Livro do Gênesis. E no Novo Testamento, as duas genealogias de Jesus, a contada por Mateus e a contada por Lucas.

   É INTERESSANTE NOTAR que na Bíblia, o Livro de Esdras revela a diligência e o escrúpulo na elaboração da árvore genealógica do judeu, já que pela Lei de Moisés só podia ascender ao sacerdócio quem pertencesse à descendência de Aarão.  Por outro lado, a primeira carta de Paulo a Timóteo contém a recomendação para os cristãos não se ocuparem com fábulas e genealogias, as quais ocasionam questões, pois a edificação de Deus se funda na fé. Tal admoestação, segundo estudiosos, era dirigida aos que só admitiam judeus no seio do Cristianismo, rejeitando os gentios e seus descendentes. Não era então uma posição de Paulo contra a Genealogia, como alguns chegaram até a proclamar.

   OS MÓRMONS, com perseverança, levantam suas árvores genealógicas por entenderem ser de sua responsabilidade à realização de ordenanças de salvação dos que morreram, com vistas à redenção de suas almas. Para isso, criaram a Sociedade Genealógica da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, reconhecida como a maior organização genealógica do mundo.

   NOSSOS ANTEPASSADOS podem não terem sido importantes, mas todos nos temos uma historia e uma árvore genealógica que podemos construir, respeito a nossa descendência e a nossa ascendência. Para isso as fontes orais são importantes e os documentos dão credibilidade.

   QUEM não gostaria de saber de onde veio? Quem não quer conhecer os seus antepassados e o que eles fizeram? De resto, isso me parece um dever ou obrigação contraída com aqueles que já partiram e que nos legaram um nome, para perpetua-los no seio de nossa família, e para tornar conhecido seu exemplo, para respeitá-los e para prosseguir na sua esteira luminosa.


    RUI BARBOSA dizia: "A Pátria é a família amplificada" e "Multiplicai a família e tereis a Pátria". Assim cultivemos a família que é a nossa base e o nosso espelho! 

sábado, 29 de agosto de 2009

O BRASÃO DE ARMAS DO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DA BARRA

Deve-se ter presente que um Brasão de Armas Municipal
não é uma logomarca de uma administração publica
ou de uma empresa comercial, e não se transforma
com as mudanças ocorridas na política ou
pelo dinamismo do desenvolvimento ou pelo crescimento institucional e empresarial.

A ORIGEM DO BRASÃO DE SÃO JOÃO DA BARRA

Ao não existir na região uma assessoria especializada em heráldica, foi inevitável que muitas administrações municipais de São João da Barra adotassem e usassem em seus documentos as Armas da Republica. Um fato relevante que contribuiu para esse uso foi a vigência de uma determinação legal em vigor desde 1930, e posteriormente acentuada durante o período do Estado Novo (1937-1945), que proibia expressamente aos municípios de terem símbolos próprios.

Tal proibição foi somente abolida com a Constituição do Brasil de 1946, posteriormente confirmada com a Constituição de 1967 e re-confirmada com a Constituição de 1988, que em seu Artigo 13 e parágrafo primeiro define: “São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais”, e seu parágrafo segundo reza: “Os Estados, o Distrito Federal e os municípios poderão ter símbolos próprios”. Para uma inequívoca compreensão, destacamos que o termo “armas” usado na Constituição é outra forma para se referir a “brasão de armas”.

Por causa disso, era natural que os responsáveis pelo município de São João da Barra usassem os símbolos nacionais. Entretanto o desenvolvimento municipal motivou às autoridades a dotar o município de símbolos próprios, e as impeliu a buscar essa representatividade num Brasão de Armas e numa Bandeira Municipal, como aconteceu a meados de 1966.

Assim, tendo em vista as disposições constitucionais vigentes, o então Prefeito Municipal de São João da Barra, Alberto Dauaire solicitou e recebeu, sem qualquer ônus para o Município, a assessoria do Dr. Alberto R. Fioravanti, então Delegado no Estado do Rio de Janeiro do Supremo Tribunal de Armas e Consulta Heráldica do Brasil, que é uma entidade cultural, sem fins lucrativos, destinada ao estudo e divulgação da heráldica, quem lhe proporcionou o projeto para criar o brasão e a bandeira que foi aprovado pela egrégia Câmara de Vereadores e se tornou lei municipal.

Para que se pudesse elaborar o Brasão de Armas para São João da Barra, foi necessário recorrer aos documentos escritos que relatavam à história, conhecer os vários elementos da sua geografia, da sua sócio-economia, os monumentos existentes e, entre todos, eleger os mais significativos. Assim, através da leitura de todos esses ingredientes é que foi possível construir as Armas de São João da Barra, de forma que as mesmas fossem simples, harmoniosas e, como não poderia deixar de ser, de leitura e interpretação fáceis.

Devemos ter presente que para a composição de um brasão de armas ou de uma bandeira é necessário que esses símbolos destaquem fatos históricos e sócio-econômicos do município e que se atenda a umas tantas regras, como as de proporção, partição, cores, peças a serem incluídas internamente como também os elementos externos ao escudo. Ao lado dessas regras, há também algumas leis universalmente aceitas que regem toda a sistematização heráldica e a combinação de cores, entre outras, e elas foram devidamente contempladas no brasão e na bandeira de São João da Barra.

Um brasão de armas e uma bandeira são, e sempre serão os símbolos de maior importância para um Município e, sobre os quais, todo cidadão deveria conhecer sua descrição e seu significado, para assim ter sempre orgulho deles.

DESCRIÇÃO HERÁLDICA

Dentro dos preceitos universais da heráldica a descrição do Brasão de Armas de São João da Barra é a seguinte:

“Escudo português partido; o primeiro (a destra) em campo de azul (blau) seis estrelas de ouro, postas 2, 2, e 2; o segundo de vermelho (goles) com uma coroa de penas, com cinco penas visíveis (cocar indígena), sobre duas flechas cruzadas em aspa, tudo de ouro; cortado de prata, com um encontro (cabeça) de boi na sua cor natural; e a sua vez cortado de verde (sinopla) com uma barra ondada de prata e aguada de azul (blau). O escudo esta assentado na proa de uma quilha de barco de madeira, na sua cor. Como suportes ou apoios, duas torres de usina na sua cor, cada uma superposta por um peixe de prata, postos em cada lado do escudo. Na base do escuto, um listel de prata ostenta os seguintes dizeres de negro (sable): “São João da Barra”. Encimando o conjunto, como peça máxima, a coroa mural de cinco torres de prata, com suas portas abertas de negro, que é o símbolo heráldico de cidade.”

O Brasão de São João da Barra, descrito acima, vem sendo utilizado nos documentos municipais desde 1965. Entretanto, com o passar dos tempos, devido à emancipação dos distritos que deram origem ao Município de São Francisco do Itabapoana, o desenho do brasão teve que sofrer um indispensável ajuste no seu primeiro quartel; primeiro quando foi reduzido o numero das estrelas representativas dos distritos municipais, e depois quando foi aumentado, para igualá-las ao numero dos distritos integrados no município de São João da Barra.

Lamentavelmente, por razões fora do controle das autoridades municipais, tanto as proporções do escudo como os detalhes do desenho e das cores de suas peças sofreram involuntárias deturpações iconográficas, que agora com este estudo ficam sanadas.

Para a realização correta do desenho do Brasão de Armas em forma digitalizada, tanto a cores como em preto e branco, se contou com a valiosa cooperação do arquiteto e heraldista paulista, o Dr. Paulo Marcelo Rezzutti, Membro Correspondente, em São Paulo, do Supremo Tribunal de Armas e Consulta Heráldica do Brasil (STACHB).

A história, os marcos geográficos e os dados sócios econômicos que poderiam ser representativos do município sempre foram muito amplos e por isso foi de suma importância restringir ao máximo o número de elementos que figurariam no campo do escudo para dar-lhe maior realce e valor. E foi seguida uma das máximas heráldicas, defendida pelo celebre mestre heraldista italiano, Goffredo di Corollanza, que diz: “Chi há di piu há di meno”, ou seja, “Quem tem muito tem pouco”. O que significa que quanto mais simples for a representação de um brasão, mais valor e representatividade ele incorpora.

O escudo de um brasão é o campo onde estão representadas as peças representativas das armas. Como arma defensiva os escudos eram redondos, ovais, convexos, quadrangulares ou oblongos. Durante o século XI essa arma se alargou ao alto, terminando em ponta. O escudo cobria quase todo o corpo do cavaleiro e era feito de madeira ou de couro, guarnecido com aplicações de placas de cobre ou de ferro, e era adornado de pinturas e de emblemas dos mais variados.

Os escudos e brasões não se traçam ao acaso, com proporções arbitrarias, mas tem proporções determinadas que devem ser respeitada. Na representação heráldica, seja ela de família ou de domínio, o escudo tem a proporção regulamentar de sete medidas de largura por oito de altura. Cada medida recebe o nome de módulo, e para se determinar as dimensões do escudo no Brasão de São João da Barra basta seguir uma simples “regra de três”: “oito está para sete, assim como N (altura) está para X (largura). Por exemplo, se o escudo for desenhado com 4 cm de altura, deverá ter 3,5 cm de largura".

É importante destacar que num brasão a direita (destra) e a esquerda (sinistra) estão ao contrario das do observador, pois se deve entender que o escudo protegia o guerreiro que se colocava por trás, ficando seu corpo identificado com o interior do escudo, e tendo, portanto, a mesma esquerda e direita.

Em sua concepção, um brasão de armas compreende tanto elementos internos como externos. Aqueles são as divisões e repartições, as figuras, as cores e tudo o mais que se encontre no campo do escudo e que dizem respeito ao município. Os elementos externos são os ornamentos que aparecem em volta, por cima, por baixo e aos lados do escudo, e se referem aos atributos do município e da cidade que ele representa. . Assim, um brasão compõe-se do escudo e das figuras nele representadas, bem como aqueles elementos que ficam por cima, aos lados e por baixo. No Brasão de São João da Barra, tais ornamentos compreendem a coroa mural, os suportes e o listel.

O brasão de São João da Barra foi idealizado com uma interpretação iconográfica que recordasse a história da terra e as qualidades de seu povo, como também sintetizasse o simbolismo da magnificência das belas paisagens municipais e de seu litoral privilegiado pela natureza, orlado de belíssimas e aprazíveis praias, e que traduzisse a ordem, a tradição, a nobreza e a valentia que sempre foram características natas do dinâmico povo de São João da Barra.

Desde os primeiros tempos, costumam se apresentar os brasões de armas em cores: seja com o fim artístico decorativo, seja com o objeto de melhor conservar suas peças, e principalmente o escudo de defesa, contra a oxidação e a ação das intempéries. Um escudo é visto com um só campo ou subdividido em campos justapostos que permite a representatividade dos diversos aspectos históricos, geográficos e sócios econômicos representativos do município.

Para que os esmaltes (sejam eles cores ou metais) pudessem ser entendidos devidamente quando esculpidos em pedra ou madeira, ou gravados em metal ou impressos em preto e branco, os antigos heraldistas resolveram o problema de diversas formas. Alguns individuavam as cores correspondentes, reproduzindo a primeira letra da cor correspondente; outros as individualizavam usando as primeiras sete letras do alfabeto; e assim por adiante, para não falar daqueles que recorriam aos nomes dos planetas solares. Para nossa sorte, foi também um estudioso que propôs uma solução muito sensata e fácil de aplicação prática.

Este foi o francês Vulson de la Colombière quem propôs primeiro, por volta de 1600, de individualizar as diversas cores com tracejados especiais. Entretanto a difusão de este sistema aconteceu principalmente graças a obra de um jesuíta italiano, o padre Silvestro di Pietrasanta, quem foi o primeiro que o utilizou na sua obra “Tesserae gentilitiae ex legibus fecialium descriptae”, publicada em Roma em 1637. Segundo esse sistema, universalmente aceito, as cores e metais são representados por meio de traços e pontos, a saber:

· o ouro (jalne) é representando por um pontilhado, e quando não houver a tinta apropriada, usa-se o amarelo;
· a prata, por um campo liso, sem qualquer sinal, e quando não houver a tinta especial, usa-se o branco;
· o azul (blau), por tracejados horizontais;
· o vermelho (goles), por tracejados verticais;
· o verde (sinopla), por tracejados diagonais, da direita para a esquerda (é oportuno dizer aqui que ao olharmos para um brasão, a sua direita e a sua esquerda são aquelas que fazem supor as do cavaleiro que traz o escudo);
· o negro (sable), por tracejados cruzados, com linhas verticais e horizontais, ou simplesmente tingido da cor negra;
· a púrpura, por tracejados diagonais, da esquerda (ou seja da direita de quem olha o escudo) para a direita;
· a carnação, por tracejados cruzados, com linhas diagonais.
· as peças que são representadas ao natural, ou em sua cor, permanecem sem qualquer tracejado, isto é, também com o campo liso, em branco.

Usando a simbologia heráldica dos esmaltes, o Brasão de Armas de São João da Barra, em preto e branco, se vê na seguinte figura:



INTERPRETAÇÃO E JUSTIFICAÇÃO

A interpretação e a justificação de cada peça e cor incluída nas armas do município se detalham a seguir:

a) O ESCUDO PORTUGUÊS. Dentre as várias formas de escudos heráldicos, foi escolhido o escudo denominado de português para recordar a origem lusitana de nossa terra e os primeiros colonizadores que para vieram para as planícies do município, e quem, no decorrer do ano de 1630, edificaram uma pequena capela tendo como orago a João Batista, primo dileto de Jesus Cristo. Assim fica lembrado também o nascimento de São João da Praia do Paraíba, que foi o segundo núcleo de efetiva colonização portuguesa do norte fluminense. A forma do escudo lembra também as várias etapas da evolução administrativa municipal desde os tempos de colônia, que de freguesia instituída por Alvará de 1644, foi sucessivamente subindo em importância administrativa, sendo alçada à condição de Vila por Ordem de 6 de junho de 1677, e culminando com a Lei Provincial No. 534, de 17 de junho de 1850, que concedeu à Vila os foros de Cidade.

b) A PARTIÇÃO DO ESCUDO. Um escudo raramente é visto com um só campo, e quase sempre encontramo-lo subdividido em diversos campos justapostos. Esse fato nos enseja a oportunidade de fazermos um estudo especial sobre suas partições, cujas razões são diversas, e a principal é o entrelaçamento dos elementos representativos da geopolítica, da história e da economia municipal. Partido é o escudo dividido, por um “golpe de espada” representado por uma linha vertical, em duas partes iguais, a que chamamos de quartéis. Cortado, como ocorre com o segundo quartel, é o dividido em duas partes iguais, por uma linha horizontal, formando a sua vez dois quartéis, sendo que o segundo também é cortado. Partido e cortado vêm simbolizar a união indestrutível dos vários elementos do escudo.

c) AS ESTRELAS. Cada estrela representa um dos distritos do município, e na atualidade são seis, entretanto seu número pode variar conforme seja o número de distritos existentes no município. Na heráldica, normalmente, a estrela tem cinco pontas, como é o caso das representadas no brasão de armas de São João da Barra, e por tanto não necessita que se indique o numero de suas pontas. A escolha de estrelas para representarem os distritos foi para recordar a existência de uma guia segura com que as autoridades municipais conduzem o Município em direção a portos de desenvolvimento espirituais e materiais. As estrelas que brilham no céu da noite são milhares e por séculos serviam de guia para os navegantes e descobridores de nossa terra e vem também a simbolizar que os são joanenses aspiram a coisas superiores e a ações sublimes.

d) A COR AZUL (blau) do campo do primeiro quartel, sendo a cor do céu, vem simbolizar todas as idéias que vem do alto que inspiram o desenvolvimento municipal, e representa a firmeza incorruptível da cidadania são joanense, realçando a Glória que é um fato que se realça sobre as coisas terrenas da Virtude que é um dom celestial. Também o azul é a cor do mar e vem lembrar que São João da Barra conta com diversas apraziveis praias turísticas, como Grussai, Chapéu do Sol, Açu e as do distrito de Atafona. O Azul sintetiza a justiça, a lealdade e a temperança e esta relacionada com a pedra preciosa “safira”.

e) A COR VERMELHA (goles) lembra a história das lutas pela colonização da terra e pela autonomia do município, e a coragem e o amor que os são joanenses têm por sua terra, indicando também o sangue derramado pela pátria, a audácia, o valor, a galhardia, e a nobreza conspícua e domínio sempre demonstrado pelos habitantes do município. Por outro lado, o vermelho esta também para lembrar a caridade, generosidade e honra, do cidadão de São João da Barra, e para traduzir o sangue derramado por Cristo na sua cruz, e o de São João, orago da cidade, que foi martirizado e teve sua cabeça cortada, com o que consolida o simbolismo do amor fraternal existente. Esta cor esta relacionada com o rubi.

f) A COROA DE PENAS, com cinco penas visíveis (cocar indígena), SOBRE DUAS FLECHAS cruzadas em aspa, que universalmente são peças reconhecidas como representativas dos ameríndios, vêm assinalar a presença no território do município, dos bravos e valentes indígenas do grupo goitacá e de hordas nômades dos aguerridos e temíveis purís, como também dos guarús. Assim, através dessas peças, o brasão do município recorda os primitivos donos da terra. A posição das flechas em “aspa” indica uma colocação correspondente a de uma cruz em forma de “X”.

g) O METAL OURO (jalne), que é o mais precioso e nobre dos metais heráldicos, simboliza a força, a fé, a riqueza e o comando, que sempre estiveram presentes nas mentes e nos corações dos habitantes de São João da Barra, em todas as etapas do desenvolvimento do Município.

h) O METAL PRATA, como campo de um dos quartéis, é um dos metais mais usados na heráldica. De tudo que já se escreveu sobre a prata em heráldica, no brasão de São João da Barra ela vem simbolizar a Amizade existente entre os cidadãos, a Equidade ou a disposição de reconhecer o direito de cada um, a Justiça que é o fundamento da cidadania, e a Inocência e a Pureza que transpira dentro das fronteiras do município e que foram impulsoras da grandeza municipal.

i) O ENCONTRO DE BOI (cabeça de boi). Encontro é a palavra heráldica usada para designar a cabeça de certos animais, excepcionalmente vista de frente, e no brasão de São João da Barra, temos um encontro de boi que vem representar a pecuária que, com a agricultura, se desenvolve como importante atividade econômica do município.

j) A COR VERDE (sinopla) está relacionada com a esmeralda, e alem de simbolizar a Vitória, a Civilidade, a Abundancia, a Honra, a Amizade, o Serviço e o Respeito, atributos inegáveis da população do município, vem representar a Esperança e o Desejo de desenvolvimento de seus habitantes e traduz a cor verdejante dos campos que cobrem o município e que fazem sempre esperar copiosas colheitas.

k) A BARRA ONDADA E AGUADA. A barra é uma peça heráldica de primeira grandeza, e é normalmente igual, na sua largura, à terça parte do escudo ou do quartel, e vem disposta em diagonal, firmando-se no ângulo superior esquerdo do chefe e no ângulo inferior direito da ponta. A barra ondada e aguada de azul, que atravessa o campo de verde, vêm simbolizar o majestoso Rio Paraíba do Sul que atravessa o território do município, onde se encontra sua foz. O Rio Paraíba do Sul foi destacado no Brasão de São João da Barra, pois desempenhou um papel importante para o desenvolvimento econômico do município, pois foi a via de comunicação que permitiu o intercambio comercial que a Velha Província fazia com o resto do país. O rio, ao estar colocado na posição heráldica “em barra” (que é a peça de heráldica de primeira ordem, movente do ângulo sinistro do chefe ao ângulo destro da ponta), vem recordar a toponímia municipal, que é São João da Barra.

l) A PROA DA QUILHA DE BARCO, que está representada na sua cor natural, destaca a importância que um porto representa para o desenvolvimento local e recorda que com a navegação fluvial a cidade se fez próspera, beneficiada pelas riquezas que circulavam pelo porto, no Cais do Imperador. Pelo porto de São João da Barra entravam e escoavam as mercadorias produzidas na região e importadas de outras terras. Assim o porto de São João da Barra teve uma importância histórica para o desenvolvimento das áreas cortadas pelo rio Paraíba do Sul. A proa do barco simboliza também o espírito dinâmico dos habitantes do município e sua tenacidade de sempre seguirem para frente, sem temor de vencer obstáculos para lograr o progresso e o bem estar geral.

m) AS TORRES DE ENGENHO OU DE USINAS, também na sua cor, vêm lembrar o continuo e pujante desenvolvimento industrial local que teve suas origens, desde épocas remotas, nos vários engenhos e usinas de açúcar, e também nas outras atividades industriais, como a inovadora e dinâmica fábrica de bebidas que com seu continuo modernizar, projeta o nome do município de São João da Barra através de todo o país e mesmo além das próprias fronteiras nacionais.

n) OS PEIXES de prata, que além de patentear a riqueza piscícola do município, tanto a fluvial como a marítima, que é amplamente conhecida pela excelente qualidade de seu pescado, vem também ressaltar a existência de lindas praias em toda a sua orla marítima, o que consolidou uma progressista atividade turística e que foi um dos elementos que viabilizaram a colonização da região. Além disso, os peixes ressaltam a preocupação do município pela ecologia e pela adequada preservação do meio-ambiente.

o) A COROA MURAL. A coroa mural de cinco torres de prata que e encima o escudo como peça de maior destaque é a peça consagrada pela heráldica de domínio como representativa de cidade. Na realidade a coroa mural de cidade possui 8 (oito) torres, das quais apenas 5 (cinco) são visíveis (sendo as três centrais visíveis inteiras e as duas das extremidades, visíveis pela metade, e as demais três não aparecendo por estarem na volta de trás). Cada torre tem sua porta aberta para indicar que o município de São João da Barra está sempre de portas e braços apertos para receber tanto aos turistas visitantes como àqueles que o escolheram o município como lugar para sua residência permanente.

p) A COR PRETO (sable) das portas das torres da coroa mural serve para indicar que as portas da cidade estão abertas. Ela está relacionada com a mais preciosa das pedras preciosas, o diamante. Na heráldica, a cor negro simboliza a prudência, a abnegação, a humildade e a modéstia, que são qualidade que sempre caracterizaram o povo de São João da Barra. Ela também denota a simplicidade e a espiritualidade e ressalta a harmonia existente entre todas as raças que foram as forjadoras da identidade do município. A cor preto vem hoje também representar a riqueza do petróleo existente na bacia marítima do município.

q) O LISTEL DE PRATA COM A INSCRIÇÃO DE NEGRO, indicativa de SÃO JOÃO DA BARRA, ao igual que na coroa mural, demonstra a perfeita combinação da prata (que também é representada pela cor branca) com a cor negro, com as quais se procurou simbolizar a harmonia existente entre todo o povo do município onde, com uma grande variedade e misturas de raças e religiões, sempre foi e é um lugar onde não existe preconceito de qualquer natureza e onde a liberdade é igual para todos.




Brasão Eclesiástico de Monsehor Joaquim Sobrinho.

Razões do Brasão Eclesiástico de
Monsenhor Joaquim Ferreira Sobrinho.
Descrição Heráldica e Interpretação


Antecedentes
O objetivo deste documento é apresentar o brasão de armas eclesiástico de Monsenhor Joaquim Ferreira Sobrinho com sua descrição heráldica (ou blasonamento ou brasonamento) e apresentar a interpretação, significado e simbologia, do tipo de escudo escolhido, da partição usada, e de cada uma das peças e esmaltes (cores e metais) usados, e da divisa ou lema adotado.

Falar de heráldica não é uma tarefa fácil e escrever sobre heráldica é tarefa das mais complexas, principalmente quando se dirige aos leitores que não tenham familiaridade com a ciência ou arte heráldica. Mesmo com essas limitantes, estabelecidas como premissas desde documento, se procurará ser o mais simples e direto possível. Vale destacar que o vocabulário heráldico é particularmente rico, incorpora palavras estranhas, e que são muitas as peculiaridades de um brasão eclesiástico.

De uma forma geral se pode definir a Heráldica como sendo a disciplina que ensina a compor os brasões de armas e foi propriamente por sua particular característica de criatividade e de fantasia, que em lugar de ciência heráldica, houve tempos em que se preferia falar de “arte”. Blasonar seria então compreender o significado das armas e fazer a descrição correta, em termos heráldicos. Para a composição de um brasão-de-armas é necessário que se atenda a umas tantas regras, como as de proporção do escudo, de suas partições, das peças e suas localização, e atenda também a leis, universalmente aceitas e que regem toda a sistematização heráldica.

Um brasão é composto de escudos e de ornamentos. Um escudo e seu campo, propriamente dito, têm uma história. Procedente do latim “scutum” designa arma defensiva. Saindo de seu âmbito guerreiro, os escudos passaram para o âmbito da ciência heráldica, contudo a heráldica não é privilégio da Nobreza, mas como símbolo encontra guarida na hierarquia eclesiástica, nas corporações civis e militares e até nas associações desportivas.

Um escudo pode ser simples, isto é, com um só campo, ou composto de diversos campos, e quase sempre encontramo-lo subdividido em diversos campos justapostos. Esse fato nos enseja a oportunidade de fazer interpretações de suas razões. Para maior claridade deve-se ter presente que o escudo é considerado como uma pessoa colocada à frente do observador, ou seja, à nossa frente. Então sua direita e a sua esquerda são respectivamente à esquerda e a direita de quem observa.

Naturalmente um heraldista deverá estar apto para descrever um brasão de armas e qualquer outro heraldista, sem ver o desenho original, em qualquer parte do mundo, também estará apto a compreendê-la e a recompor graficamente o desenho, guiado apenas pelo que foi heraldicamente descrito. Certamente que qualquer desenho heráldico, feito por heraldistas distintos, nunca se verá como cópia exata, como se fosse um xérox do original, pois haverá variações derivadas das impostações ou inclinações artísticas de quem desenha o referido brasão, mas que em nada interfere com a estrutura do que foi descrito heraldicamente.

Cada partição, cada peça heráldica e cada esmalte podem ser interpretados de muitas maneiras, mas sempre guardam relação com a razão da escolha da peça ou do esmalte e em referencia ao seu titular.

O estudo da Heráldica Eclesiástica é uma parte viva da heráldica e tem por objetivo ordenar, analisar, interpretar e registrar os brasões dos dignitários da Igreja, bem como de suas corporações, e que pela sua própria natureza, foge dos clássicos brasões de armas da nobreza e da cavalaria. Recorda-se que neste caso se trata de brasões para o uso pessoal de sacerdotes da Igreja Católica, Apostólica e Romana, e que por tanto não se tratam de armas de combate.

Descrição Heráldica

“Escudo português antigo, terciado em perla. O primeiro de sinopla (verde) com uma ancora de prata, posta em pala, acompanhada a destra, de uma estrela radiante de prata, e a sinistra de um coração ao natural, em chamas de jalne (ouro); o segundo de blau (azul) com o clássico monograma de Maria, formado pelas letras “M” e “A” sobrepostas, entre um circulo formado por doze estrelas, tudo de prata; o terceiro de goles (vermelho), com um leão de jalne, armado e lampassado de blau, entre as letras gregas “Alfa” e “Omega” também de jalne. Encimando o escudo, o chapéu eclesiástico de sable (negro), forrado de goles, com seus cordões em cada lado, terminados em cada lado por duas borlas, uma sobre a outra, tudo de sable. Sob o conjunto, um listel de prata, forrado de vermelho, ostenta como divisa a legenda “NOLITE TIMERE” escritas em letras maiúsculas de sinopla”.

Interpretação do Escudo, Divisão, Peças e Esmaltes do Brasão:

Como foi explicado nos antecedentes, na criação do brasão de armas pessoal de Monsenhor Joaquim Ferreira Sobrinho, se teve o maior cuidado de procurar representar graficamente sua origem, as fontes de suas aspirações sacerdotais e o seu trabalho evangelizador. Definitivamente o escudo obedece às regras heráldicas para os eclesiásticos e em base no que foi blasonado se ressaltam as seguintes considerações:

PRIMEIRO: A escolha do escudo português antigo foi proposital para recordar a origem lusitana dos ascendentes de Monsenhor Joaquim e presença da igreja católica em terras brasileiras desde o seu descobrimento assim como a origem lusitana do Brasil. Por outro lado, a forma usada para a partição do escudo, ou seja, o terciado em perla é uma representação que deixa transparecer o desenho normalmente utilizado para explicar graficamente as relações entre as Pessoas da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), tema que tocou a vida de Santo Agostinho e que inspira o trabalho de apostolado de Monsenhor Joaquim.

O campo do escudo ficou então constituído de três partes, ou seja, dividido por duas semi-retas que partem dos ângulos do chefe, se reúnem no coração e prosseguem até a ponta. Forma de partição é considerada como um “símbolo de religião”, e neste brasão vem indicar um ideal inspirado na espiritualidade da Igreja Católica, Apostólica, como uma declaração espiritual de Monsenhor Joaquim de ser um seguidor e propagador de seus ensinamentos.

SEGUNDO: O primeiro quartel é que está do lado esquerdo de quem observa o escudo de frente. Nele é onde se registra normalmente as peças que teriam um grande destaque e que provavelmente seria de importância ou influencia para o ministério do titular do brasão.

Nesse primeiro quartel se pretendeu destacar os modelos de vida e ação sacerdotal, voluntariamente assumidos por Monsenhor Joaquim em seus compromissos com Deus. Também nos traz ao conhecimento a figura de Dom Bosco, de quem, desde seus tempos de seminarista, Monsenhor Joaquim procurou inspiração e forças para seu trabalho apostólico, ao ter nele representado algumas das peças de um brasão que foram escolhidas por São João Bosco. Assim a grande ancora é a expressão de sua esperança; a estrela radiante, a expressão de sua fé, e o coração em chamas, a expressão de sua caridade pastoral, que diariamente estão presentes no seu apostolado.

A âncora é um dos símbolos cristãos mais antigos e encontra-se gravada nos afrescos das catacumbas romanas. Instrumento de segurança dos barcos, a que a iconografia cristã recorre frequentemente (desde as catacumbas) como símbolo da esperança, firmeza e fidelidade. Na Carta aos Hebreus lemos: “temos esta esperança como uma âncora segura e firme da alma” (cf. Heb 6,19). Uma âncora prometia firmeza e segurança; tornou-se, portanto imagem da confiança e da esperança.
A barra transversal sob o anel de fixação da amarra sugeria a forma de cruz, que era dissimulada apenas pela parte inferior da âncora. O poeta barroco W. F. Hohberg (1675) escreveu: “Quando tormenta futura um marinheiro percebe, lança a âncora e se amarra nela. Portanto, quando uma alma se fortalece no consolo divino, a cruz, nem aflição, nem medo podem movê-la”.

Sendo assim, como no brasão de armas de Monsenhor Joaquim, até hoje a âncora é usada para representar a virtude teologal da esperança, que o Batismo infunde em nós. A âncora é então para o cristão, o símbolo da salvação, símbolo da alma que felizmente chegou ao porto da eternidade.


A estrela radiante vem lembrar da necessidade de seguir a estrela de Belém para fazer nascer em nós a Cristo. E que no nosso caminho precisamos de esperança, que em seu ministério Monsenhor Joaquim procura dar esperança à humanidade, que bem sabemos, já não tem nenhuma; dar esperança àqueles que não a tem.
O Coração de Jesus em Chamas vem aqui destacar a missão da Igreja, a exemplo do Bom Pastor, que é conduzir o rebanho para boas pastagens, ir ao encontro da ovelha perdida e estar no meio do povo. O “Amor de Deus”, simbolizado no Coração de Cristo também se constitui como marca do ministério eclesial de Monsenhor Joaquim, em todas as suas atividades pastorais.

O esmalte verde do campo deste quartel significa a esperança, a liberdade, a honra, a cortesia e a amizade, valores que são característicos da personalidade de Monsenhor Joaquim.

TERCEIRO: Neste quartel vemos como peça principal o monograma de Maria Santíssima, que é constituído pelas letras “M” e “A” sobrepostas e que estão rodeadas de 12 estrelas de prata. Maria é a mãe de Cristo e é a mãe da Igreja, e nesse caso Maria vem a ser um centro inspirador da missão sacerdotal de Monsenhor Joaquim. As estrelas, em volta do monograma, lembrariam as doze tribos de Judá do antigo Testamento, e também os doze apóstolos, que são as doze colunas que sustentam a Igreja, e através deles a todos os pastores, lembrando que um dos títulos de Maria é justamente o de “Rainha dos Apóstolos”.

"Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas". (Apocalipse 12,1). O monograma que lembra a Virgem Maria, traduz a confiança e a devoção filial de Monselhor Joaquim, que colocou toda a sua vida sacerdotal sob a proteção da Mãe de Deus.

Usou-se a prata no monograma e nas estrelas, pois esse metal tem um amplo significado, a começar por representar a inocência e a pureza de Maria, e também a esperança, a inocência, a castidade, a pureza e a eloqüência, virtudes essenciais num sacerdote, e para nos lembrar que a Virgem é a “Aurora da Salvação”.

O campo de azul, que além de representar o firmamento celeste, ou o céu infinito, onde está Maria, de corpo e alma, é também a cor do manto de Nossa Senhora que se estende sobre a Terra, em sinal de proteção a todos os povos. O azul também simboliza a justiça, a lealdade e a fidelidade, apanágios que norteiam a vida sacerdotal de Monsenhor Joaquim.

QUARTO: O terceiro quartel complementa o que se indicou no princípio, ao explicar o significado de dividir o escudo num terciado em perla, e vem também confirmar a fidelidade de Monsenhor Joaquim à Cátedra de Pedro onde o campo de vermelho evidencia a caridade, a benignidade e a generosidade, que são virtudes e qualidades do titular do brasão. Por outro lado, sendo o campo de goles (vermelho) simboliza o fogo da caridade inflamada no coração de Monselhor Joaquim pelo Divino Espírito Santo, bem como, seu valor e socorro aos necessitados.

O Leão, que é o rei dos animais e significa autoridade, soberania e vigilância, neste brasão vem simbolizar a fortaleza do soldado cristão e sendo de jalde (ouro), o mais nobre dos metais, ressalta a justiça, a generosidade, o esplendor, a alegria, a autoridade e a premência.

O termo “armado” e “lampassado”, respectivamente, são usados para identificar que possui garras e língua de outro esmalte. E neste caso foi utilizado o “blau” (azul) para simbolizar características não agressivas e serenas. O Leão simboliza o evangelista Marcos, e no evangelho de Marcos (Mc 16. 15-20), encontramos a missão ou compromisso assumido por Monsenhor Joaquim e que incessantemente ele vem praticando: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo, mas quem não acreditar será condenado”.

O símbolo de S. Marcos, que é o Leão, animal do deserto porque o seu Evangelho começa pela pregação de João Baptista no deserto, vem traduzir as dificuldades apostólicas que um sacerdote tem de enfrentar, mesmo estando numa grande cidade, muitas vezes pareceria estar pregando um deserto.
O leão está colocado entre as letras gregas “Alfa” e “Omega” (Λ e Ω), que são os nomes da primeira e da última letra do alfabeto grego. Elas foram usadas três vezes no livro de Revelação (Apocalipse) e vem indicar que “Cristo é vivo, ontem e hoje: Ele é o Princípio e o Fim, o Alfa e o Ômega. Pertencem-Lhe os anos e os séculos. A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos” (Missal Romano, Preparação do círio pascal). Esta é a bandeira levantada por Monsenhor Joaquim em seu ministério, mostrando que Cristo é o início e o fim de todas as coisas.

QUINTO: No passado a heráldica eclesiástica obedecia a regras muito rígidas e interessava a muitas categorias de pessoas e instituições de Igreja, o que já não acon­tece hoje. Entretanto, nas armas dos sacerdotes, bis­pos, ar­ce­bispos, primazes e cardeais, o escudo é encimado por um chapéu de pe­regrino ornamentado com dois cor­dões com bor­las em número e cor variáveis.

Num sentido comum, o peregrino é o fiel em peregrinação a um santuário ou à Terra Santa, e assim o chapéu de peregrino vem recordar aquele chapéu que, por muito tempo, os antigos peregrinos usavam como proteção em suas caminhadas aos lugares santos. Os cordões laterais eram usados para amarrá-lo ao pescoço a fim de evitar que o mesmo fosse levado pelo vento. De acordo com as regras da heráldica eclesiástica, o chapéu é de negro com um cordão de cada lado, e cada terminado por duas borlas, uma sobre a outra, tudo de negro. Isto vem destacar que o titular, além de ser Pároco da Matriz de São Benedito e Chanceler da Cúria Diocesana de Campos, possuí o título de Monsenhor, que é um título eclesiastico honorifico conferido aos sacerdotes pelo Papa.

SEXTO: Rematando o escudo, em sua base, esta um listel de prata com a divisa “NOLITE TIMERE”, que significa “NÃO TENHAIS MEDO”. Na heráldica, tanto na civil como na eclesiástica, é costume colocar sob o escudo um listel, uma fita ou um pergaminho, que leva registrado um lema, ou divisa, que com poucas palavras, expressa um ideal e um programa de vida.

A divisa escolhida para o presente brasão de armas é altamente significativa e não foi escolhida ao acaso, merecendo um maior detalhamento pela mensagem de confiança que ela encerra e que Monsenhor Joaquim assumiu para sua vida sacerdotal. Essa mensagem é encontrada em vários trechos bíblicos. Destacamos Mateus, 10.28 “Nolite timere eos qui corpus occidunt, animam autem non possunt occidere”. Trecho que traz uma importante e atual mensagem, cuja tradução ao português é: “Não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma”. Também a vemos em outro trecho: “Nolite timere nec paveatis” 2 Paralipômenos 20.17, e que significa “Não temais nem vos acovardeis”.

A divisa escolhida por Monsenhor Joaquim Ferreira Sobrinho também nos recorda uma passagem da vida de São Francisco quando, já cheio da graça do Espírito Santo, predisse o que aconteceria aos seus irmãos. Chamando para si os seis frades que tinha e, na floresta junto da igreja de Santa Maria da Porciúncula, onde rezavam, disse-lhes: — “Caríssimos irmãos, consideremos a nossa vocação, porque Deus nos chamou misericordiosamente, não tanto para a nossa, mas para a utilidade e também para a salvação de muitos. Portanto, vamos pelo mundo exortando e instruindo homens e mulheres com a palavra e com o exemplo, para que façam penitência de seus pecados e se lembrem dos mandamentos do Senhor, que já por longo tempo esqueceram”.

E lhes disse mais: “Nolite timere quia pusilli (cfr. Luc 12,32) et insipientes videmini, sed secure annuntiate simpliciter poenitentiam, confidentes in Domino qui vicit mundum (cfr. Ioa 16,33) quod spiritu suo loquitur per vos et in vobis (cfr. Mat 10,20) ad exhortandum omnes ut convertantur ad ipsum et eius mandata observent”. Ou seja: “Pequeno rebanho, não tenhais medo (Lc 12,32), mas tende confiança em Deus. Não digais entre vós: “Somos homens rudes e sem instrução: como faremos para pregar?” Mas lembrai-vos das palavras que o Senhor dirigiu a seus discípulos: “Não sois vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai fala em vós” (Mt 10,20). Não tenhais medo por parecerdes poucos e ignorantes, mas com firmeza e simplicidade anunciai a penitência, confiando no Senhor, que venceu o mundo, porque por seu Espírito falará por meio de vós e em vós para exortar a todos que se convertam a Ele e observem seus mandamentos. "Nolite timere pusilus grex", não temais pequenino rebanho, recomendou-nos Nosso Senhor, concluiu São Francisco.

Desenho Artístico de Raul Breno Marquardt,
Diretor do Atelier Heráldico,
Cachoeirinha, RS.

Concepção do Brasão, Descrição Heráldica e Comentários do Dr. Alberto R. Fioravanti,
Presidente do Supremo Tribunal de Armas e Consulta Heráldica do Brasil.


Campos dos Goytacazes, 22 de agosto de 2007, dia de Nossa Senhora Rainha.
Assinado: Dr. Alberto R, Fioravanti.


quinta-feira, 11 de junho de 2009

OS NOSSOS SÍMBOLOS!






Se há coisas que desde tenra idade me interessaram foram estes panos coloridos e ondulantes... que eu via nos mastros da minha escola e nos edifícios públicos da cidade. Foi no jardim-de-infância que, um dia, minha primeira professora falou sobre a bandeira nacional. Ela soube me estimular, e a outros dos meus colegas, para ver aquele pano que tremulava na entrada da escola, como sendo o símbolo que unia a todos os brasileiros. Com o passar dos anos fui conhecendo mais e mais sobre os nossos símbolos.

O QUE É SÍMBOLO?

Os dicionários ensinam que "símbolo é tudo aquilo que, por um princípio de analogia, representa ou substitui alguma coisa: "A balança é o símbolo da justiça". E mais: "aquilo que, por sua forma e natureza, evoca, representa ou substitui, num determinado contexto, algo abstrato ou ausente: "O Sol é o símbolo da vida"; "A água é o símbolo da purificação". Ou ainda: aquilo que tem valor evocativo: "A cruz é o símbolo do cristianismo"

VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM HERÁLDICA E VEXILOLOGIA?


Elas são as ciências que estudam, respectivamente, os brasões e as bandeiras. Lamentavelmente elas não são mais regularmente ensinadas aqui no Brasil. Eu tive a sorte de ter convivido com brilhantes heráldistas e aprendido muito com eles, e de também ter cursado, com brilhantes professores a cadeira de Heráldica, e outras afins, nos anos 1960, no curso de Museologia do Museu Hostórico Nacional.

O Brasil tem os seus símbolos nacionais, que são: a Bandeira Nacional, o Brasão da República ou das Armas Nacionais, o Hino Nacional e o Selo Nacional. Dentre tantas outras acepções, encontramos também: "Objeto material que, por convenção arbitrária, representa ou designa uma realidade complexa"; ou "A lei dos símbolos nacionais é explícita quanto à utilização da bandeira".

O SIGNIFICADO DOS SÍMBOLOS

Todo símbolo tem um significado, sem o que ele não pode representar coisa alguma. Por exemplo: a bandeira é o emblema de um clube, de uma empresa, de uma corporação, de um partido político ou de uma nação. No sentido figurado é a idéia, divisa ou lema que serve de guia a um grupo, um grêmio, uma organização, um povo e um país. Assim deve declarar, interpretar e proclamar idéias, intenções e propósitos, pelos atributos de símbolo e distintivo que lhe são inerentes.

Paul Rand, um conhecido artista gráfico norte-americano, discorre com muita clareza sobre o valor cognitivo dos símbolos, ou seja, sobre o seu significado: "Há bons símbolos, como a cruz. Há outros, como a suástica. Seus significados são tomados de uma realidade. Símbolos são uma dualidade. Eles tomam significado das causas... boas ou más. A bandeira é o símbolo de um país. A cruz é o símbolo de uma religião. A cruz suástica era um símbolo de boa-sorte, até que seu significado foi mudado. A vitalidade de um símbolo vem da eficácia da sua disseminação pelo Estado, pela Comunidade, pela Igreja, pela Empresa. Ele necessita de programação para que seus atributos sejam preservados".

Para deixar bem claro o conceito, o seguinte é um exemplo exemplar: "Uma marca é o símbolo de uma empresa. Não é o símbolo de qualidade, mas da qualidade. A marca de Chanel precisa cheirar tão bem quanto o perfume que ela representa. Este é o princípio de harmonia entre forma e conteúdo".

Um símbolo só tem legitimidade enquanto sua forma e conteúdo são integralmente respeitados. Assim, qualquer alteração arbitrária dos seus elementos formais — como figura, cor, movimento e som — compromete seu significado e reduz a sua capacidade de representação cabal.

A Constituição Federal de 1988 estabelece a Bandeira Nacional, o Hino Nacional, as Armas Nacionais e o Selo Nacional como símbolos nacionais. Tais símbolos identificam o Brasil como nação e também as pessoas que compartilham da terra e da mesma língua. E em cerimônias, eventos esportivos, documentos importantes e edifícios públicos, esses símbolos representam o Brasil, por isso, devem ser respeitados por todos os cidadãos.

São os símbolos nacionais que identificam a nação, as pessoas que compartilham uma mesma terra e uma mesma língua. Como símbolo da pátria, a Bandeira Nacional permanece hasteada na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Quando tem que ser substituída, a nova é hasteada antes que a antiga seja arriada.

O hasteamento e arriamento são tradicionalmente feitos às 8h e 18h, respectivamente, o que não impede que isso ocorra a qualquer hora do dia ou da noite. Quando exposta à noite, porém, a bandeira deve estar bem iluminada. As Armas Nacionais devem ser usadas obrigatoriamente no Palácio da Presidência da República, nos edifícios-sede dos Ministérios, nas Casas do Congresso Nacional, no Supremo Tribunal Federal, nos Tribunais Superiores e nos Tribunais Federais de Recursos. Devem aparecer também na fachada ou no salão principal das escolas públicas, nos papéis de expediente, nos convites e nas publicações oficiais dos órgãos federais.

O Selo Nacional deve ser sempre utilizado para autenticar os atos de governo, assim como os diplomas e os certificados emitidos pelos estabelecimentos de ensino oficiais ou reconhecidos. E o Hino Nacional deve ser tocado em solenidades oficiais do governo e pode ser ouvido também em competições esportivas, cerimônias de formaturas em colégios e no próprio hasteamento da Bandeira Nacional. Além de outras ocasiões em que cada pessoa julgar necessário.

Atualmente, as escolas, sejam municipais, estaduais ou particulares, costumam desenvolver programações com símbolos nacionais somente em épocas de atividades esportivas, como as Olimpíadas ou a Copa do Mundo, ou então na época da Semana da Pátria. E isso está de acordo com a Lei nº 5.700, que prevê que a bandeira ou hino nacional devem fazer parte das atividades escolares ao menos uma vez na semana durante todo o ano letivo.

A utilização dos símbolos nacionais nos períodos esportivos é importante, pois nessas ocasiões a população se depara com seus ídolos de forma positiva e isso valoriza os símbolos. Durante as disputas esportivas, os atletas que alcançam a vitória, o ápice de um podium ou uma boa colocação, eles acabam, de uma forma ou de outra, elevando o nome do Brasil, de seu Estado e de seu Município. As pessoas ficam orgulhosas e manifestam naturalmente o sentimento de civismo e patriotismo.

Quando o tocante dos símbolos é o Hino Nacional, há quem fique em dúvida se é ou não proibido ”bater palmas” após o término. “Há uma presunção de que o Hino deva ser cantado por todos com vigor, com amor e com respeito. E se isso acontecesse não haveria necessidade de se bater palmas no final do Hino. Entretanto o que acontece em determinadas circunstâncias é que as pessoas batem palmas para uma banda militar, um coral que cantou o Hino e, na realidade, elas não estão batendo palmas para o Hino, mas para esse coral.

A legislação não diz para se aplaudir o Hino Nacional, mas o costume popular foi consagrando o aplauso. Parece que é um excesso bem-vindo. Existe um autor na área de etiqueta e ciências políticas, chamado João Vinícius de Oliveira, que dizia que bater palmas era uma falta bem-vinda. Tecnicamente não se aplaude, mas é uma falta bem-vinda.

Além do país, a Constituição Federal, faculta aos estados e aos municípios brasileiros, a adoção de símbolos próprios para retratar a história e as características de cada um deles. A grande maioria dos estados e municípios adotou como símbolos, o brasão de armas, a bandeira e o hino. De acordo com a Constituição do Estado do Rio de Janeiro, seu Art. 66 reza que são símbolos estaduais a bandeira, o hino e o brasão. Assim a relação do brasileiro com os símbolos nacionais está ligada à Lei Federal.

Os símbolos municipais são as formas de representação mais expressivas da imagem das comunidades, e, conseqüentemente, das administrações que as dirigem. Os erros mais comuns estão nos brasões de armas de grande parte dos municípios brasileiros. Além de grande parte da população desconhecer os símbolos cívicos do seu município, muitas vezes, estes foram elaborados por artistas que não possuíam nenhuma noção do que estabelece as normas e as convenções estabelecidas na ciência heráldica, principalmente, na heráldica de domínio ou cívica. Assim, os erros mais comuns estão nos brasões de armas de grande parte dos municípios brasileiros.

Os brasões de armas, assim como as bandeiras municipais, e em alguns casos, o selo municipal, são figuras simbólicas, insígnias que representam a identidade do município, a sua evolução política, administrativa e econômica, bem como os seus costumes, tradições, arte e religião.

Para a composição de um brasão de armas ou de uma bandeira, é necessário que se obedeça regras e leis, universalmente aceitas, que regem toda a sistematização da heráldica e da vexilologia. Uma destas leis diz respeito ao brasão, que é composto pelo escudo de armas - a peça mais importante -, os ornamentos exteriores, o listel com uma divisa, e os tenentes e apoios.

Para a composição de cores nos brasões e bandeiras, a heráldica estabelece o emprego de reduzida quantidade de tintas. As tintas, denominadas esmaltes, são divididas em três grupos: metais (ouro e prata), cores (goles/vermelho, bláu/azul, sinople/verde, sable/preto e púrpura) e peles (arminho, veiro, contra-armarinho, contra-veiro, arminhado). Os esmaltes não têm significado simbólico fixo e nem pré-determinado, mas não se usa, no escudo, metal sobre metal, nem cor sobre cor. O brasão também recebe um listel, que é a moldura ou o filete, com uma legenda histórica, ou o topônimo - o nome da localidade.

Considera-se o escudo de armas, da mesma forma que ele seria visto nas mãos de um combatente medieval, que o segurasse com a face externa voltada para quem o vê. Portanto, à esquerda do observador, corresponde ao lado - flanco - direito de escudo, chamado destra e, à direita do observador, o flanco esquerdo, denominado sinistra.

A falta de livros e obras sobre a ciência heráldica, que estejam facilmente accessíveis, ocasionou em grande parte a ocorrência de tantos símbolos municipais fora dos padrões. Isso motivou que no dia de hoje são poucas as pessoas no Brasil que conhecem as normas heráldicas e as leis que instituem os símbolos cívicos. Daí, a freqüente ocorrência de distorções.

Vale lembrar ainda que a Lei no. 5.700, de 1º. de setembro de 1971, determina a forma e a representação dos símbolos nacionais; estabelece a responsabilidade da escola de hastear e guardar a Bandeira Nacional e de ensinar aos alunos a conhecer, respeitar e cultuar os símbolos nacionais. No seu artigo 39, a lei tornou obrigatório, o ensino do desenho e do significado da Bandeira Nacional, bem como o canto e a interpretação da letra do Hino Nacional, em todos os estabelecimentos de ensino publico e privado.

Lamentavelmente nem todo mundo entende que um objeto pode sembolizar muitas coisas, mas num brasão e numa bandeira ele simboliza o que esta escrito na definição desse brasão e dessa bandeira.

Com respeito à qualidade dos desenhos heráldicos, gostaria de chamar a atenção dos leitores para a excelência do desenho ao lado. Esse é o Brasão do Lord Lyon David Sellar, Rei de Armas da Escócia. Lord David Sellar, um dos grandes heraldistas mundiais, foi nomeado Rei de Armas pela Rainha Elizabeth da Inglaterra e seu brasão é uma magnifica obra de arte. Sugiro aos leitores de prestarem atenção aos detalhes do sombreamento usado, que proporciona uma sensação de relevo e de leveza ao brasão e a todas as suas peças, seguindo fielmente todas as leis e egras heráldicas.

sábado, 30 de maio de 2009

O SIGNIFICADO DO BARRETE FRIGIO.



É interessante que nem sempre o significado ou a intrepretação de um elemento ou de uma peça simbólica que constra de um brasão de armas é corretamente interpretado por algumas pessoas. Recentemente tive conhecimento que uma dessas peças é o Barrete Frígio, e por isso me ocorreu ser adequado fazer alguns comentários ao respeito.

O Barrete Frígio ou barrete da liberdade é uma espécie de touca ou carapuça, que era originariamente utilizada pelos moradores da Frígia, uma antiga região da Ásia Menor, onde hoje está situada a Turquia.

O Barrete Frígio foi adotado, na cor vermelha, pelos republicanos franceses que lutaram pela liberdade na França e lograram a tomar e destruir a Bastilha em 1789, a celebre fortificação dentro da cidade de Paris, culminando assim com a instalação da primeira república francesa em 1793. Lembro-me bem deste fato que tomei conhecimento durante as aulas de história geral nos anos 1954-1960, do curso ginasial e científico do Liceu de Humanidades de Campos, e a história da revolução francesa era apaixonante pois espelhava a luta pela liberdade e pelos direitos humanos.

Por essa razão, o Barrete Frígio, tornou-se um forte símbolo do regime republicano. É interessante destacar que o Estado de de Santa Catarina presta uma homenagem a essa simbologia ao utilizar o barrete frígio no desenho de seu Brasão de Armas e de sua bandeira (conforme estabelecido pela Lei Estadual Nº 975, de 23 de outubro de 1953), e similar homenagem acontece na cidade do Rio de Janeiro que ostenta o Barrete Frigio vermelho, no centro do Brasão de Armas Municipal.

Barrete Frígio (que se assemelha a uma carapuça) já figurava no Brasão de Armas do antigo Estado da Guanabara (Lei nº 384/63) e depois da fusão com o Estado do Rio de Janeiro, permanece presente no brasão da muldialmente conhecida cidade do Rio de Janeiro. Alí ele conserva a cor vermelha que era a usada pelos proclamadores da república francesa, e tem ao centro, à esquerda, um pequeno distintivo circular (botão) com as cores nacionais.

Um outro gorro do tipo do Barrete Frígio, mas semelhante ao pileus, era usado durante o Império Romano pelos antigos escravos que tinham conseguido emancipação de seus amos e cujos descendentes eram, por esta razão, considerados cidadãos do Império. Este uso é freqüentemente também considerado, devido a origem de seu significado, como um símbolo de liberdade.

Durante o século XVIII o barrete frígio vermelho ganhou também contexto de símbolo da liberdade, ao estar segurado acima no "Pólo Liberdade" durante a Guerra da Independência dos Estados Unidos da América. Atualmente, observamos que o emblema nacional da França, a "Marieanne", também veste uma boina frígia.

O Barrete Frígio, por ser símbolo da repíblica e da liberdade, é uma peça que aparece em destaque em muitos brasões de armas e bandeiras de nações, estados e cidades, como por exemplo o da República Argentina, do estado do Rio Grande do Sul, e também em brasões de muitas cidades brasileiras. Aperece em destaque no brasão de armas da cidade de Campos dos Goytacazes, que foi idealisado nos primórdios da república brasileira, que vem sendo utilizado pelos poderes executivo e legislativo, há um século. Vale lembrar, como já foi referido por muuitos cultores da história que no brasão de Campos dos Goytacazes o barrete havia sido incluído para destacar os ideais republicanos de muitos campistas que contribuiram com o movimento que proclamou a republica brasileira a 15 de novembro de 1889.
O Barrete Frígio também aparece em vários brasões de armas de diversas repúblicas latino-americanas que surgiram antes mesmo que a república brasileira fosse proclamada, sendo uma característica dos brasões de armas e das bandeiras nacionais da República da Nicarágua e da República de El Salvador. Lembro que o Barrete Frígio aparece também na Bandeira do Estado de Nova Iorque, bem como no selo oficial do Exército Norte-Americano.

Fato curioso e "sui-generis" é que algumas pessoas não conhecedoras da heráldica e do verdadeiro simbolismo de suas peças, e talvez por não estarem ao corrente com os detalhes da história mundial e como surgiram os movimentos republicanos, sem maldade, muitas vezes interpretam erroneamente o barrete frigio, confundindo-o com a touca do simpático Papai-Noel ou com aquele tipo de touca usado pelo levado Saci-Pererê, figuras imaginárias, que em nada estão relacionadas com a realidade, nem com o simbolo republicano que há séculos vem sendo representado em muitos brasões e bandeiras.

E quem é o Saci-Pererê? O Saci-Pererê é um dos personagens simpáticos e mais conhecidos do folclore brasileiro. No Brasil o Saci-Pererê possuí até um dia em sua homenagem: 31 de outubro. Provavelmente, o saci-pererê surgiu entre povos indígenas da região Sul do Brasil. Mas folclore é folclore - e está vinculado às fantasias criadas pela imaginação fértil de alguém. Se assim não fosse, e se folclore refletisse razões verdadeiras, será que os campistas pescariam ou nadariam no trecho do Rio Paraíba, perto da curva da Lapa, onde segundo folclore local, se "esconderia" o enorme "Ururau da Lapa"?
Inegavelmente que o comportamento travêsso é a marca registrada do Saci-Pererê, esse simpático personagem folclórico. Muito divertido e brincalhão, os contos dizem que o saci-pererê passa todo tempo aprontando travessuras na matas e nas casas. Assusta os viajantes, esconde os objetos domésticos, emite ruídos, assusta os cavalos e bois no pasto etc. Apesar de todas essas brincadeiras, é sabido que êle não pratica atitudes ou travessuras com o objetivo de prejudicar alguém ou de fazer o mal. Quem primeiro retratou esse personagem e de forma brilhante o consagrou na literatura infantil brasileira, foi o escritor Monteiro Lobato, onde nas suas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo, o saci aparece constantemente. O Sítio do Pica-Pau Amerelo foi por anos tema de seriados da televisão brasileira, destinados às crianças, e quando criança lí sem nenhum temor os contos de Monteiro Lobato.

Apesar de toda a evolução do mundo, ainda hoje, no século XXI, vemos que fatos folclóricos muitas vezes passam a ser interpretados como fatos reais. E no caso do Saci-Pererê, que é uma figura muito popular, as lendas sobre seus feitos e "poderes sobrenaturais" que adornam suas estórias talvez poderiam até influenciar o pensamento de pessoas letradas ao combinarem o real com o imaginário - se esquecendo de dar o devido peso à verdade e à representatividade de fatos da história mundial, que nem sempre é cultivada ou entendida.
O símbolo do movimento republicano e o sangue derramado pelos franceses que regou o espirito do republicanismo mundial e que sentou as bases para a Declaração Universal dos Direitos do Homem, que hoje garante todos os nossos direitos fundamentais, como também os esforços dos forjadores das diversas repúblicas latino-americanas não pode ser esquecido. Seria lamentável se seu símbolo, a boina frígia, ficasse realmente confundida com o gorro pontiagudo do saci-pererê, que o folclore diz que lhe dá poderes mágicos, ou comparado depreciativamente com o pileus (aquela carapuça de forma oblonga), com a alegação que "essa boina repúblicana está molhada com as águas da feitiçaria, da bruxaria, e da supertição romana, espalhada pelo mundo".

A referência anterior, sobre a interpretação mística da carapuça do saci-pererê, não é de minha autoria, mas foi extraída de um interessante artigo de Luís da Câmara Cascudo, que como bem indica o autor, é um artigo sobre mitologia e folclore (Anúbis e outros ensaios: mitologia e folclore. Rio de Janeiro, Funarte, 1983), e que se encontra disponível na internet em - "Jangada Brasil: A Cara e Almas Brasileiras". Para lerem esse interessante artigo, indico a continuação o enderêço do site onde poderá ser encontrado:


Ante confusões entre a realidade histórica e a mitologia ou folclore, eu me faço as seguintes perguntas: a) Será que um símbolo do movimento republicano mundial, universalmente reconhecido, estaria perdendo sua importância, em algumas partes neste nosso Brasil de muitas faces, devido a um misticismo originado pelo comportamento de figuras imaginárias do folclore? b) Será que ao confundirem o barrete frígio com a gorra vermelha e pontiaguda do saci-pererê, estariam sugerindo que todas as nações mencionadas, estados e cidades brasileiras que orgulhosamente ostentam o "barrete frígio" em seus símbolos, como sendo lugares dominados pela feitiçaria ou bruxaria?
Eu não creio que isso seja um fato, e respeito o simbolismo repúblicano do Barrete Frígio.
Felizmente, graças a revolução francesa com seu barrete frígio, nós brasileiros herdamos a democracia republicana que nos garante a liberdade de pensamento, até para interpretar equivocadamente os próprios símbolos republicanos.

terça-feira, 26 de maio de 2009

A HERÁLDICA



Já ouviram falar em Heráldica e Vexilologia? São ciências auxiliares da Historia que estudam, respectivamente, os brasões e as bandeiras, que infelizmente raras pessoas as estudam no Brasil.

Este Blog está destinado à Heráldica. Procurarei aqui compartilhar com os leitores alguns pontos referentes a Heráldica (Familiar, de Domínio e Eclesiástica).

A Heráldica é a ciência que estuda e interpreta as origens, evolução, significado social e simbólico, filosofia própria, valor documental e a finalidade da representação icônica dos escudos de armas. Mas não se preocupem saber, desde já, o que é a Heráldica, palavra um tanto enigmática. Procure antes de tudo, olhar e reparar se aquilo que nos rodeia pode de algum modo, conduzir a uma visão heráldica do mundo moderno.

Um país se torna forte e respeitado, quando seu povo conhece, entende, divulga e defende os seus princípios e valores, representados pelos símbolos nacionais, estaduais e municipais.

Lamentavelmente, grande parte da população desconhece os símbolos cívicos do seu próprio município, que muitas vezes foram elaborados por artistas que não possuíam nenhuma noção da Heráldica e da Vexilologia, o que faz com que erros sejam encontrados nos brasões de armas de grande parte dos municípios brasileiros.

Para a composição de um brasão de armas, é necessário obedecer a regras e leis que são universalmente aceitas e que regem toda a sistematização da heráldica. Uma destas leis diz respeito ao brasão, que é composto pelo escudo de armas - a peça mais importante – com seus elementos internos e os ornamentos externos (listel com sua divisa, e seus tenentes ou apoios).

Para o uso das cores nos brasões, a heráldica estabelece o emprego de um reduzido número de tintas. As tintas, ou esmaltes, são divididos em três grupos: metais (ouro e prata), cores (goles/vermelho, bláu/azul, sinople/verde, sable/preto e púrpura) e peles (arminho, veiro, contra-armarinho, contra-veiro, arminhado). Os esmaltes não têm um significado simbólico fixo e nem pré-determinado, mas não se usa, no escudo, metal sobre metal, nem cor sobre cor.

A ocorrência de tantos símbolos municipais fora dos padrões pode ser atribuída à falta de livros e cursos sobre a ciência heráldica no país. Poucas são as pessoas no Brasil que conhecem as normas heráldicas e as leis que instituem os símbolos cívicos.

A interpretação do simbolismo das peças e esmaltes que compõem um brasão tem que ser feita conforme originalmente determinado no ato de sua criação, já que simbolismo é tema subjetivo. Um escudo de forma circular ou elíptica, por exemplo, que seria um símbolo heráldico da “eternidade” porque se trata de uma figura geométrica que não tem princípio nem fim, erradamente alguém poderia dizer que seria a indicação de prisão ou falta de liberdade; a cor branca, que é símbolo de paz, amizade, trabalho, prosperidade, e pureza, mas ela poderia ser interpretada completamente ao contrário, por alguém sem conhecimento heráldico.

Muitos outros casos poderiam ocorrer: como com o barrete frígio, o símbolo, por excelência, dos movimentos republicanos, do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades individuais, que, por desconhecimento, poderia até ser visto como a antiga touca de dormir, que se vê em programas humorísticos, ou mesmo como a touca que dava poderes mágicos a personagens do folclore, como o saci-pererê, figura simpática do folclore brasileiro, ou o fradinho da mão furada, no folclore português.
Em muitos contos europeus existem outras carapuças que dão invisibilidade. Por outro lado, os elmos, peça da armaria e figura essencial nos brasões familiares, poderiam, equivocadamente, ser interpretado como representativo do mitológico elmo de Perseu que o tornou invisível aos olhos das górgonas. Infelizmente até a cruz de Cristo poderia ser interpretada erroneamente.

Para que os símbolos heráldicos estejam de acordo com o que estabelece a ciência heráldica, é necessário que sua concepção seja feita por um profissional da área: o heraldista. Infelizmente isso nem sempre acontece. O Brasão principesco que está ilustrado no inicio deste artigo foi desenhado pelo heraldista Raul Breno Marquardt.
Termino este artigo com um exemplo de armas de domínio - o belo Brasão de Armas da Cidade do Rio de Janeiro, com a explicação de suas peças.