sábado, 29 de agosto de 2009

Brasão Eclesiástico de Monsehor Joaquim Sobrinho.

Razões do Brasão Eclesiástico de
Monsenhor Joaquim Ferreira Sobrinho.
Descrição Heráldica e Interpretação


Antecedentes
O objetivo deste documento é apresentar o brasão de armas eclesiástico de Monsenhor Joaquim Ferreira Sobrinho com sua descrição heráldica (ou blasonamento ou brasonamento) e apresentar a interpretação, significado e simbologia, do tipo de escudo escolhido, da partição usada, e de cada uma das peças e esmaltes (cores e metais) usados, e da divisa ou lema adotado.

Falar de heráldica não é uma tarefa fácil e escrever sobre heráldica é tarefa das mais complexas, principalmente quando se dirige aos leitores que não tenham familiaridade com a ciência ou arte heráldica. Mesmo com essas limitantes, estabelecidas como premissas desde documento, se procurará ser o mais simples e direto possível. Vale destacar que o vocabulário heráldico é particularmente rico, incorpora palavras estranhas, e que são muitas as peculiaridades de um brasão eclesiástico.

De uma forma geral se pode definir a Heráldica como sendo a disciplina que ensina a compor os brasões de armas e foi propriamente por sua particular característica de criatividade e de fantasia, que em lugar de ciência heráldica, houve tempos em que se preferia falar de “arte”. Blasonar seria então compreender o significado das armas e fazer a descrição correta, em termos heráldicos. Para a composição de um brasão-de-armas é necessário que se atenda a umas tantas regras, como as de proporção do escudo, de suas partições, das peças e suas localização, e atenda também a leis, universalmente aceitas e que regem toda a sistematização heráldica.

Um brasão é composto de escudos e de ornamentos. Um escudo e seu campo, propriamente dito, têm uma história. Procedente do latim “scutum” designa arma defensiva. Saindo de seu âmbito guerreiro, os escudos passaram para o âmbito da ciência heráldica, contudo a heráldica não é privilégio da Nobreza, mas como símbolo encontra guarida na hierarquia eclesiástica, nas corporações civis e militares e até nas associações desportivas.

Um escudo pode ser simples, isto é, com um só campo, ou composto de diversos campos, e quase sempre encontramo-lo subdividido em diversos campos justapostos. Esse fato nos enseja a oportunidade de fazer interpretações de suas razões. Para maior claridade deve-se ter presente que o escudo é considerado como uma pessoa colocada à frente do observador, ou seja, à nossa frente. Então sua direita e a sua esquerda são respectivamente à esquerda e a direita de quem observa.

Naturalmente um heraldista deverá estar apto para descrever um brasão de armas e qualquer outro heraldista, sem ver o desenho original, em qualquer parte do mundo, também estará apto a compreendê-la e a recompor graficamente o desenho, guiado apenas pelo que foi heraldicamente descrito. Certamente que qualquer desenho heráldico, feito por heraldistas distintos, nunca se verá como cópia exata, como se fosse um xérox do original, pois haverá variações derivadas das impostações ou inclinações artísticas de quem desenha o referido brasão, mas que em nada interfere com a estrutura do que foi descrito heraldicamente.

Cada partição, cada peça heráldica e cada esmalte podem ser interpretados de muitas maneiras, mas sempre guardam relação com a razão da escolha da peça ou do esmalte e em referencia ao seu titular.

O estudo da Heráldica Eclesiástica é uma parte viva da heráldica e tem por objetivo ordenar, analisar, interpretar e registrar os brasões dos dignitários da Igreja, bem como de suas corporações, e que pela sua própria natureza, foge dos clássicos brasões de armas da nobreza e da cavalaria. Recorda-se que neste caso se trata de brasões para o uso pessoal de sacerdotes da Igreja Católica, Apostólica e Romana, e que por tanto não se tratam de armas de combate.

Descrição Heráldica

“Escudo português antigo, terciado em perla. O primeiro de sinopla (verde) com uma ancora de prata, posta em pala, acompanhada a destra, de uma estrela radiante de prata, e a sinistra de um coração ao natural, em chamas de jalne (ouro); o segundo de blau (azul) com o clássico monograma de Maria, formado pelas letras “M” e “A” sobrepostas, entre um circulo formado por doze estrelas, tudo de prata; o terceiro de goles (vermelho), com um leão de jalne, armado e lampassado de blau, entre as letras gregas “Alfa” e “Omega” também de jalne. Encimando o escudo, o chapéu eclesiástico de sable (negro), forrado de goles, com seus cordões em cada lado, terminados em cada lado por duas borlas, uma sobre a outra, tudo de sable. Sob o conjunto, um listel de prata, forrado de vermelho, ostenta como divisa a legenda “NOLITE TIMERE” escritas em letras maiúsculas de sinopla”.

Interpretação do Escudo, Divisão, Peças e Esmaltes do Brasão:

Como foi explicado nos antecedentes, na criação do brasão de armas pessoal de Monsenhor Joaquim Ferreira Sobrinho, se teve o maior cuidado de procurar representar graficamente sua origem, as fontes de suas aspirações sacerdotais e o seu trabalho evangelizador. Definitivamente o escudo obedece às regras heráldicas para os eclesiásticos e em base no que foi blasonado se ressaltam as seguintes considerações:

PRIMEIRO: A escolha do escudo português antigo foi proposital para recordar a origem lusitana dos ascendentes de Monsenhor Joaquim e presença da igreja católica em terras brasileiras desde o seu descobrimento assim como a origem lusitana do Brasil. Por outro lado, a forma usada para a partição do escudo, ou seja, o terciado em perla é uma representação que deixa transparecer o desenho normalmente utilizado para explicar graficamente as relações entre as Pessoas da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), tema que tocou a vida de Santo Agostinho e que inspira o trabalho de apostolado de Monsenhor Joaquim.

O campo do escudo ficou então constituído de três partes, ou seja, dividido por duas semi-retas que partem dos ângulos do chefe, se reúnem no coração e prosseguem até a ponta. Forma de partição é considerada como um “símbolo de religião”, e neste brasão vem indicar um ideal inspirado na espiritualidade da Igreja Católica, Apostólica, como uma declaração espiritual de Monsenhor Joaquim de ser um seguidor e propagador de seus ensinamentos.

SEGUNDO: O primeiro quartel é que está do lado esquerdo de quem observa o escudo de frente. Nele é onde se registra normalmente as peças que teriam um grande destaque e que provavelmente seria de importância ou influencia para o ministério do titular do brasão.

Nesse primeiro quartel se pretendeu destacar os modelos de vida e ação sacerdotal, voluntariamente assumidos por Monsenhor Joaquim em seus compromissos com Deus. Também nos traz ao conhecimento a figura de Dom Bosco, de quem, desde seus tempos de seminarista, Monsenhor Joaquim procurou inspiração e forças para seu trabalho apostólico, ao ter nele representado algumas das peças de um brasão que foram escolhidas por São João Bosco. Assim a grande ancora é a expressão de sua esperança; a estrela radiante, a expressão de sua fé, e o coração em chamas, a expressão de sua caridade pastoral, que diariamente estão presentes no seu apostolado.

A âncora é um dos símbolos cristãos mais antigos e encontra-se gravada nos afrescos das catacumbas romanas. Instrumento de segurança dos barcos, a que a iconografia cristã recorre frequentemente (desde as catacumbas) como símbolo da esperança, firmeza e fidelidade. Na Carta aos Hebreus lemos: “temos esta esperança como uma âncora segura e firme da alma” (cf. Heb 6,19). Uma âncora prometia firmeza e segurança; tornou-se, portanto imagem da confiança e da esperança.
A barra transversal sob o anel de fixação da amarra sugeria a forma de cruz, que era dissimulada apenas pela parte inferior da âncora. O poeta barroco W. F. Hohberg (1675) escreveu: “Quando tormenta futura um marinheiro percebe, lança a âncora e se amarra nela. Portanto, quando uma alma se fortalece no consolo divino, a cruz, nem aflição, nem medo podem movê-la”.

Sendo assim, como no brasão de armas de Monsenhor Joaquim, até hoje a âncora é usada para representar a virtude teologal da esperança, que o Batismo infunde em nós. A âncora é então para o cristão, o símbolo da salvação, símbolo da alma que felizmente chegou ao porto da eternidade.


A estrela radiante vem lembrar da necessidade de seguir a estrela de Belém para fazer nascer em nós a Cristo. E que no nosso caminho precisamos de esperança, que em seu ministério Monsenhor Joaquim procura dar esperança à humanidade, que bem sabemos, já não tem nenhuma; dar esperança àqueles que não a tem.
O Coração de Jesus em Chamas vem aqui destacar a missão da Igreja, a exemplo do Bom Pastor, que é conduzir o rebanho para boas pastagens, ir ao encontro da ovelha perdida e estar no meio do povo. O “Amor de Deus”, simbolizado no Coração de Cristo também se constitui como marca do ministério eclesial de Monsenhor Joaquim, em todas as suas atividades pastorais.

O esmalte verde do campo deste quartel significa a esperança, a liberdade, a honra, a cortesia e a amizade, valores que são característicos da personalidade de Monsenhor Joaquim.

TERCEIRO: Neste quartel vemos como peça principal o monograma de Maria Santíssima, que é constituído pelas letras “M” e “A” sobrepostas e que estão rodeadas de 12 estrelas de prata. Maria é a mãe de Cristo e é a mãe da Igreja, e nesse caso Maria vem a ser um centro inspirador da missão sacerdotal de Monsenhor Joaquim. As estrelas, em volta do monograma, lembrariam as doze tribos de Judá do antigo Testamento, e também os doze apóstolos, que são as doze colunas que sustentam a Igreja, e através deles a todos os pastores, lembrando que um dos títulos de Maria é justamente o de “Rainha dos Apóstolos”.

"Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas". (Apocalipse 12,1). O monograma que lembra a Virgem Maria, traduz a confiança e a devoção filial de Monselhor Joaquim, que colocou toda a sua vida sacerdotal sob a proteção da Mãe de Deus.

Usou-se a prata no monograma e nas estrelas, pois esse metal tem um amplo significado, a começar por representar a inocência e a pureza de Maria, e também a esperança, a inocência, a castidade, a pureza e a eloqüência, virtudes essenciais num sacerdote, e para nos lembrar que a Virgem é a “Aurora da Salvação”.

O campo de azul, que além de representar o firmamento celeste, ou o céu infinito, onde está Maria, de corpo e alma, é também a cor do manto de Nossa Senhora que se estende sobre a Terra, em sinal de proteção a todos os povos. O azul também simboliza a justiça, a lealdade e a fidelidade, apanágios que norteiam a vida sacerdotal de Monsenhor Joaquim.

QUARTO: O terceiro quartel complementa o que se indicou no princípio, ao explicar o significado de dividir o escudo num terciado em perla, e vem também confirmar a fidelidade de Monsenhor Joaquim à Cátedra de Pedro onde o campo de vermelho evidencia a caridade, a benignidade e a generosidade, que são virtudes e qualidades do titular do brasão. Por outro lado, sendo o campo de goles (vermelho) simboliza o fogo da caridade inflamada no coração de Monselhor Joaquim pelo Divino Espírito Santo, bem como, seu valor e socorro aos necessitados.

O Leão, que é o rei dos animais e significa autoridade, soberania e vigilância, neste brasão vem simbolizar a fortaleza do soldado cristão e sendo de jalde (ouro), o mais nobre dos metais, ressalta a justiça, a generosidade, o esplendor, a alegria, a autoridade e a premência.

O termo “armado” e “lampassado”, respectivamente, são usados para identificar que possui garras e língua de outro esmalte. E neste caso foi utilizado o “blau” (azul) para simbolizar características não agressivas e serenas. O Leão simboliza o evangelista Marcos, e no evangelho de Marcos (Mc 16. 15-20), encontramos a missão ou compromisso assumido por Monsenhor Joaquim e que incessantemente ele vem praticando: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo, mas quem não acreditar será condenado”.

O símbolo de S. Marcos, que é o Leão, animal do deserto porque o seu Evangelho começa pela pregação de João Baptista no deserto, vem traduzir as dificuldades apostólicas que um sacerdote tem de enfrentar, mesmo estando numa grande cidade, muitas vezes pareceria estar pregando um deserto.
O leão está colocado entre as letras gregas “Alfa” e “Omega” (Λ e Ω), que são os nomes da primeira e da última letra do alfabeto grego. Elas foram usadas três vezes no livro de Revelação (Apocalipse) e vem indicar que “Cristo é vivo, ontem e hoje: Ele é o Princípio e o Fim, o Alfa e o Ômega. Pertencem-Lhe os anos e os séculos. A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos” (Missal Romano, Preparação do círio pascal). Esta é a bandeira levantada por Monsenhor Joaquim em seu ministério, mostrando que Cristo é o início e o fim de todas as coisas.

QUINTO: No passado a heráldica eclesiástica obedecia a regras muito rígidas e interessava a muitas categorias de pessoas e instituições de Igreja, o que já não acon­tece hoje. Entretanto, nas armas dos sacerdotes, bis­pos, ar­ce­bispos, primazes e cardeais, o escudo é encimado por um chapéu de pe­regrino ornamentado com dois cor­dões com bor­las em número e cor variáveis.

Num sentido comum, o peregrino é o fiel em peregrinação a um santuário ou à Terra Santa, e assim o chapéu de peregrino vem recordar aquele chapéu que, por muito tempo, os antigos peregrinos usavam como proteção em suas caminhadas aos lugares santos. Os cordões laterais eram usados para amarrá-lo ao pescoço a fim de evitar que o mesmo fosse levado pelo vento. De acordo com as regras da heráldica eclesiástica, o chapéu é de negro com um cordão de cada lado, e cada terminado por duas borlas, uma sobre a outra, tudo de negro. Isto vem destacar que o titular, além de ser Pároco da Matriz de São Benedito e Chanceler da Cúria Diocesana de Campos, possuí o título de Monsenhor, que é um título eclesiastico honorifico conferido aos sacerdotes pelo Papa.

SEXTO: Rematando o escudo, em sua base, esta um listel de prata com a divisa “NOLITE TIMERE”, que significa “NÃO TENHAIS MEDO”. Na heráldica, tanto na civil como na eclesiástica, é costume colocar sob o escudo um listel, uma fita ou um pergaminho, que leva registrado um lema, ou divisa, que com poucas palavras, expressa um ideal e um programa de vida.

A divisa escolhida para o presente brasão de armas é altamente significativa e não foi escolhida ao acaso, merecendo um maior detalhamento pela mensagem de confiança que ela encerra e que Monsenhor Joaquim assumiu para sua vida sacerdotal. Essa mensagem é encontrada em vários trechos bíblicos. Destacamos Mateus, 10.28 “Nolite timere eos qui corpus occidunt, animam autem non possunt occidere”. Trecho que traz uma importante e atual mensagem, cuja tradução ao português é: “Não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma”. Também a vemos em outro trecho: “Nolite timere nec paveatis” 2 Paralipômenos 20.17, e que significa “Não temais nem vos acovardeis”.

A divisa escolhida por Monsenhor Joaquim Ferreira Sobrinho também nos recorda uma passagem da vida de São Francisco quando, já cheio da graça do Espírito Santo, predisse o que aconteceria aos seus irmãos. Chamando para si os seis frades que tinha e, na floresta junto da igreja de Santa Maria da Porciúncula, onde rezavam, disse-lhes: — “Caríssimos irmãos, consideremos a nossa vocação, porque Deus nos chamou misericordiosamente, não tanto para a nossa, mas para a utilidade e também para a salvação de muitos. Portanto, vamos pelo mundo exortando e instruindo homens e mulheres com a palavra e com o exemplo, para que façam penitência de seus pecados e se lembrem dos mandamentos do Senhor, que já por longo tempo esqueceram”.

E lhes disse mais: “Nolite timere quia pusilli (cfr. Luc 12,32) et insipientes videmini, sed secure annuntiate simpliciter poenitentiam, confidentes in Domino qui vicit mundum (cfr. Ioa 16,33) quod spiritu suo loquitur per vos et in vobis (cfr. Mat 10,20) ad exhortandum omnes ut convertantur ad ipsum et eius mandata observent”. Ou seja: “Pequeno rebanho, não tenhais medo (Lc 12,32), mas tende confiança em Deus. Não digais entre vós: “Somos homens rudes e sem instrução: como faremos para pregar?” Mas lembrai-vos das palavras que o Senhor dirigiu a seus discípulos: “Não sois vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai fala em vós” (Mt 10,20). Não tenhais medo por parecerdes poucos e ignorantes, mas com firmeza e simplicidade anunciai a penitência, confiando no Senhor, que venceu o mundo, porque por seu Espírito falará por meio de vós e em vós para exortar a todos que se convertam a Ele e observem seus mandamentos. "Nolite timere pusilus grex", não temais pequenino rebanho, recomendou-nos Nosso Senhor, concluiu São Francisco.

Desenho Artístico de Raul Breno Marquardt,
Diretor do Atelier Heráldico,
Cachoeirinha, RS.

Concepção do Brasão, Descrição Heráldica e Comentários do Dr. Alberto R. Fioravanti,
Presidente do Supremo Tribunal de Armas e Consulta Heráldica do Brasil.


Campos dos Goytacazes, 22 de agosto de 2007, dia de Nossa Senhora Rainha.
Assinado: Dr. Alberto R, Fioravanti.


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